Mais de duas décadas após o lançamento de World of Warcraft, o modo Mythic+ se consolidou como o principal conteúdo para grupos de cinco jogadores no jogo. No entanto, junto com seu sucesso, ele também trouxe um problema recorrente que a Blizzard ainda não resolveu: a toxicidade dentro da comunidade.
O sonho virou pesadelo: de Deadmines ao Mythic+
Quem jogava WoW nas primeiras versões lembra da emoção de encarar masmorras como Deadmines com um grupo aleatório do bate-papo de zona. Era o mais próximo que muitos chegavam de uma sessão de Dungeons & Dragons digital. Hoje, o cenário mudou: Mythic+ dominou o espaço das masmorras desafiadoras, mas com ele veio a pressão, impaciência e falta de tolerância.
Enquanto os modos Normal e Heroic ainda são acessíveis e casuais, não oferecem recompensas que realmente importam. Assim, quem quer aproveitar o verdadeiro design cooperativo do jogo acaba caindo no Mythic+ – e, com ele, no sistema de chaves e timers que pressionam a performance ao extremo.
O problema do tempo: desempenho acima do aprendizado
Em Mythic+, o tempo é tudo. Concluir a masmorra antes do cronômetro acaba melhora sua chave e dá melhores recompensas. Se passar do tempo, sua chave é rebaixada. Isso cria um ambiente onde erros não são bem-vindos e o foco passa a ser eficiência total – especialmente para tanques, que precisam ditar o ritmo e conhecer as rotas ideais de cada masmorra.
Essa cultura de "corrida contra o relógio" pune o aprendizado e desencoraja jogadores iniciantes ou que ainda estão se aprimorando. Cada erro parece uma perda de tempo para o grupo, e isso alimenta comportamentos tóxicos – como críticas pesadas, abandonos ou exclusões injustas.
Falta de suporte social no design do jogo
A Blizzard pode não ter planejado esse cenário, mas a forma como o sistema é estruturado facilita a toxicidade. O foco absoluto no desempenho sem considerar aspectos colaborativos ou educativos ignora uma parte essencial de qualquer MMO: o desenvolvimento da comunidade.
Jogadores mais experientes até podem evitar esses problemas com grupos fixos ou guildas amigáveis, mas nem todos têm tempo ou disposição para isso. Comunidades como a No Pressure surgem para preencher essa lacuna, oferecendo ambientes mais saudáveis. Mas o ideal seria que o próprio jogo fornecesse essas ferramentas.
Propostas para um Mythic+ mais saudável
Sistema de Reputação SocialInspirado em jogos como Final Fantasy XIV, um sistema de “elogios” ou "reconhecimentos" seria bem-vindo. Saber se um jogador foi frequentemente classificado como “Amigável” ou “Colaborativo” é tão importante quanto seu nível de habilidade. E isso pode vir acompanhado de recompensas visuais ou funcionais.
Métricas alternativas ao tempo
O cronômetro pode continuar existindo, mas ele não precisa ser o único critério. Que tal pontuar o uso eficaz de habilidades de suporte? Ou dar bônus por limpar grupos de inimigos rapidamente sem sair de combate? Healers poderiam receber pontuações por manter o grupo vivo em batalhas consecutivas.
Sistemas de pontuação híbrida
Misturar tempo com desempenho técnico e cooperação criaria uma pontuação mais justa. Isso reconheceria boas jogadas mesmo quando o tempo final não foi alcançado, incentivando o aprendizado e reduzindo a frustração de falhas.
O desafio de mudar a cultura – e o jogo
É fácil culpar os jogadores pela toxicidade, mas ignorar o papel das mecânicas que incentivam esse comportamento é um erro. Um MMO precisa cuidar não só do conteúdo, mas de como ele estimula interações. Se World of Warcraft quer continuar relevante nos próximos 10 anos, repensar o Mythic+ sob uma ótica mais social e inclusiva é essencial.
