
The Last Elf – Um mundo onde a magia é esquecida, mas não silenciada
The Last Elf nos apresenta uma fantasia que caminha entre a contemplação melancólica e um possível confronto político. A obra de Akira Sawano é, acima de tudo, uma jornada sobre perda, resistência e a tentativa de preservar algo que o mundo insiste em apagar: a memória mágica de um passado quase extinto.
A protagonista, Aharu, é a última elfa viva em uma terra que já não tem espaço para o sobrenatural. A era da magia deu lugar ao vapor e ao aço, e agora ela viaja ao lado de sua coruja companheira, Glyph, para libertar espíritos presos por antigos pactos. Cada capítulo funciona quase como uma fábula: uma missão, um espírito esquecido, um humano afetado por traumas ou promessas. É como se Aharu estivesse executando um último ritual antes do fim definitivo dessa era.
Os três primeiros capítulos seguem esse formato “espírito-da-semana”, mas com uma pegada bem emocional, quase como se fosse um Natsume Yuujinchou com tons mais sombrios. Aharu parece aceitar com resignação o desaparecimento da magia, e a atmosfera é de luto calmo. Mas é no quarto capítulo que a obra começa a mostrar seu verdadeiro potencial — e talvez sua verdadeira proposta.
Nesse ponto, surgem elementos mais densos: governo autoritário, extermínio de espíritos, tentativa de apagar registros mágicos da história. Aharu, que parecia apenas uma andarilha silenciosa, revela um lado mais ácido, político e até combativo. A história dá um salto do pessoal para o estrutural — como se o autor dissesse: “Isso não é só sobre saudade, é sobre resistência contra a opressão”.
Visualmente, The Last Elf tem momentos lindos. Os cenários industriais contrastam com as aparições etéreas dos espíritos. A arte ainda tem suas limitações — alguns quadros são confusos e os personagens humanos demoram a expressar emoção — mas isso melhora ao longo do volume. O destaque absoluto vai para Glyph, a coruja, que rouba cada cena em que aparece.
Apesar de algumas incertezas de tom, a série começa bem. Fica claro que ainda está encontrando seu rumo — talvez entre algo mais contemplativo como Mushishi, ou algo mais direto como Fullmetal Alchemist. Seja qual for o caminho, há uma semente muito promissora aqui.
Veredito: The Last Elf é uma história sobre fim, memória e a delicada luta contra o esquecimento. Pode não entregar tudo logo de cara, mas promete muito mais nas próximas páginas. Para quem gosta de fantasia com alma e crítica social disfarçada de aventura, vale a leitura — mesmo que com um pé atrás.