Mansect: mangá de horror corporal dos anos 70 retorna com mutações grotescas e crítica social

 

Mansect – Quando a obsessão se transforma em horror

Prepare o estômago: Mansect não é um mangá para os fracos de coração — ou para quem tem nojo de insetos. Lançado originalmente em 1975 por Shinichi Koga e agora relançado com tradução em inglês pela editora Smudge, essa obra é uma viagem alucinante (e grotesca) pelo terror corporal, carregada de metáforas sobre isolamento, transformação e vingança.

A trama parte de uma ideia absurda, mas intrigante: e se a evolução humana tivesse uma fase semelhante à metamorfose dos insetos? Em Mansect, um jovem socialmente isolado, solitário e obcecado por insetos começa a sofrer mudanças físicas depois de um trauma. O que se segue é uma cadeia de mutações bizarras que afetam outras pessoas ao redor, como se o horror fosse contagioso. Cada novo caso revela uma dor ou tragédia particular, o que reforça o tom sombrio e melancólico da obra.

A arte em preto e branco com traços pesados é daquelas que ficam na cabeça. Mesmo sendo datada, ela funciona perfeitamente com o tom grotesco do mangá, e algumas páginas causam um desconforto visual que lembra as obras de Junji Ito — o próprio autor de Uzumaki já citou Shinichi Koga como uma de suas influências. O uso de horror corporal aqui é tão eficaz que, mesmo hoje, as cenas de metamorfose continuam impactantes.

O mangá funciona quase como uma coletânea de histórias conectadas por esse tema de transformação monstruosa — tanto física quanto emocional. Cada personagem que sofre a mutação carrega consigo uma dor, uma angústia ou uma perda que os desumaniza de forma simbólica até que se tornem algo completamente novo… e assustador. É como uma versão ainda mais desesperadora de Kafka com pitadas de terror psicológico japonês.

Apesar de algumas passagens soarem exageradas ou até mesmo cômicas (como a ideia de que múmias humanas seriam casulos para uma nova forma de vida), isso só acrescenta à aura pulp e surreal da obra. E é exatamente aí que mora seu charme: no desequilíbrio entre o absurdo e o perturbador.

Veredito: Mansect é uma relíquia estranha, suja e fascinante. Se você curte horror corporal, transformações nojentas e críticas sociais disfarçadas de grotesco, esse mangá vai te fisgar — ou pelo menos te causar alguns pesadelos.

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