Poucas vezes me senti tão representado por um personagem quanto com Sophia neste episódio de Gorilla God's Go-To Girl. Sua total aversão à ideia de ir ao baile da escola (ok, a legenda chamou de “festa”, mas convenhamos que “baile” faz mais jus ao drama) é absurdamente real para quem já sofreu em eventos sociais na adolescência.
Quando um vestido vira um pesadelo
A situação de Sophia é ainda mais angustiante porque ela não queria se destacar — muito pelo contrário. Seu pedido inocente para os pais mandarem um vestido antigo foi interpretado como um sinal de que ela queria brilhar. Resultado: eles enviam um vestido vermelho, tomara-que-caia, digno de um pesadelo para quem queria só ser uma figurante no salão.
É fácil imaginar que, para os pais, isso parecia uma vitória: “Ela está finalmente saindo da concha!” Mas para Sophia, foi exatamente o oposto. Sua linguagem corporal, encolhida e desconfortável, é uma das representações mais sinceras da ansiedade social já vistas em um anime recente.
Entre mocinhas discretas e tropes problemáticos
Ainda assim, reconheço que essa construção da personagem pode não agradar a todos. Há o risco de Sophia ser vista como mais uma variação do velho clichê “não sou como as outras garotas” — aquela pureza involuntária que faz com que todos os rapazes mais interessantes do elenco (Louis, Isaac, Eddy, e agora até Leonhart) gravitem naturalmente em torno dela.
Talvez seja isso mesmo que o autor queria mostrar. Mas a forma como Sophia tenta desaparecer dentro do próprio vestido mantém sua autenticidade. É difícil não simpatizar com alguém que claramente não quer ser o centro das atenções, mesmo que acabe chamando-a sem querer.
Reflexos de gorila e senso de sobrevivência
No meio da tensão social, Sophia ainda protagoniza momentos que viram a expectativa do público de cabeça para baixo. Quando uma das comparsas de Carissa tenta derramar bebida nela — em uma tentativa bem batida de humilhação pública —, as novas habilidades “gorilescas” de Sophia entram em ação, salvando a situação de maneira divertida.
Já o convite para seguir Araignée até o prédio abandonado da escola foi, sim, uma ingenuidade. Mas é até engraçado como ela transforma a armadilha em vantagem: presa dentro de uma caixa, Sophia simplesmente aceita ficar ali — afinal, é uma ótima desculpa para não ter que voltar ao baile.
Claro, isso pode ter consequências catastróficas, especialmente considerando que a caixa foi carregada para algum lugar desconhecido. Mas Sophia não é uma donzela indefesa: ela sabe que poderia sair dali a qualquer momento, e escolhe esperar.
Essa consciência — de que o resgate, se vier, será porque ela permitiu — é um dos pontos mais fortes da personagem até agora.
Conclusão: autenticidade acima de tudo
Mesmo com alguns tropeços visuais (como o estranho rasgo na manga de Sophia que some magicamente), Gorilla God's Go-To Girl consegue capturar emoções reais em meio ao absurdo da trama. E se o anime segue com problemas técnicos, pelo menos nos dá personagens como Sophia, que fazem a jornada valer a pena.