Apocalypse Hotel: o anime estranho, existencial e hilário que você precisa assistir

 

Sabe aquela pergunta que a gente se faz quando tudo ao redor parece estar desmoronando? "Por que a gente ainda faz tudo isso?" Já me peguei pensando nisso em momentos tensos, em dias silenciosos demais ou lendo alguma notícia bizarra sobre o estado do mundo. E foi exatamente essa sensação que me atravessou enquanto assistia aos primeiros episódios de Apocalypse Hotel. Só que o anime não te joga nisso de forma pesada — ele mistura tudo com humor, melancolia e absurdos robóticos, e é justamente isso que o torna tão único.

Yachiyo e os robôs que ficaram para cuidar do que sobrou

No centro dessa história está a Yachiyo, gerente interina do hotel, que leva seu trabalho a sério mesmo que a humanidade já tenha basicamente desaparecido. Ela ainda acredita, com convicção quase inocente, que um dia os humanos vão voltar a se hospedar ali. E ela vai estar pronta pra recebê-los. Isso, por si só, já seria bonito. Mas o anime vai além: mostra que, apesar de ser uma IA, Yachiyo tem falhas, acessos de pânico, reações exageradas e até "grita internamente" quando algo sai fora do protocolo. É hilário e, ao mesmo tempo, incrivelmente humano.

O elenco de robôs secundários também é ótimo — mesmo sem falarem nada. A animação usa gestos, sons e interações rápidas pra dar personalidade a cada um. O Flycatcher é aquele irritante travesso. Os dois robôs da limpeza vivem em guerra passiva-agressiva. O cozinheiro parece genuinamente orgulhoso da comida que faz. E o Doorman, coitado, vive superaquecendo de tanto tentar abrir portas… pra ninguém. E ainda assim, ele continua. Um detalhe pequeno, repetido, que vira metáfora existencial. Hilário, sim. Mas dolorido também.

Reflexões existenciais disfarçadas de comédia sci-fi

O que mais me impressionou foi o equilíbrio que a série consegue manter entre o bizarro e o tocante. No segundo episódio, por exemplo, um alienígena aleatório aparece como hóspede. Tudo dá errado. A comunicação falha. A negociação de pagamento envolve roubar um banco em ruínas. É completamente ridículo. Mas no final, Yachiyo se despede com um simples gesto de mão, do jeitinho que o alien gostava, e aquilo é suficiente pra criar um momento genuíno de conexão. É pequeno. É quase inútil. Mas é tudo o que ela tem — e isso basta.

Tem algo de Camus e Kafka nessa lógica absurda: fazer aquilo que já não tem sentido, mas fazer mesmo assim. A vida de Yachiyo virou isso. Ela limpa quartos para hóspedes que não existem. Gerencia rotinas para robôs que não precisam. Mas, de vez em quando, alguém aparece. E ela está pronta.

Visualmente simples, emocionalmente rico

A direção da novata Kana Shundo merece destaque. Mesmo com um orçamento visivelmente modesto, ela entrega ritmo, carisma e um senso de identidade visual e tonal muito sólido. Ela não tem medo de repetir piadas bobas como o superaquecimento do Doorman — e isso só reforça o quão bem trabalhada está a narrativa de fundo. Não é só piada pela piada: é rotina. É uma programação sem fim. É solidão disfarçada de comédia.

Conclusão: estranho, triste, reconfortante – e brilhante

Apocalypse Hotel é aquele tipo de anime que parece simples à primeira vista, mas que fica te assombrando (no bom sentido) depois de terminar o episódio. Mistura comédia nonsense com melancolia existencial, faz referências filosóficas enquanto entrega cenas bobas com robôs e ainda encontra espaço pra ser bonito — de um jeito agridoce, mas bonito. É uma daquelas pérolas estranhas que só o Japão consegue criar.

Se você curte histórias que te fazem rir, pensar e ficar meio desconcertado ao mesmo tempo, vale muito a pena dar uma chance. Porque, no fim das contas, talvez a pergunta não seja "por que ainda estamos fazendo isso?", mas sim: "se ainda estamos aqui… por que não fazer com carinho?"

Postagem Anterior Próxima Postagem