Sinopse:
Mari Asaka é uma estudante comum do ensino médio, levando uma vida tranquila, até conhecer Tsunagu Hidaka, um garoto beastfolk (homem-besta) que acaba de ser transferido para sua escola como parte de um programa de integração. Enquanto a maioria dos beastfolk vive isolada em uma área murada da cidade, Tsunagu agora enfrenta o desafio de estudar em um ambiente humano. Mari e Tsunagu rapidamente se aproximam, mas será que um romance pode florescer num mundo onde beastfolk são tratados como cidadãos de segunda classe?
Análise:
Sim, estamos falando de um romance “furry” e sim, é uma história voltada para o público jovem. Mas esses dois aspectos não precisam, necessariamente, ser um problema. Aliás, o que mais incomoda nesse mangá não é o fato de Tsunagu ser um homem-cão musculoso, mas sim o uso de clichês questionáveis dentro de um enredo romântico juvenil.
O universo criado pela autora Chihiro Yuzuki apresenta uma sociedade onde os beastfolk foram criados por engenharia genética no passado (sem muitos detalhes sobre o motivo). Apesar de viverem como humanos, eles são segregados e mantidos em áreas fechadas, com forte vigilância. Tsunagu, por exemplo, precisa apresentar documentos para sair de sua zona e ir à escola. O colégio da história participa de um novo programa que permite a entrada de alunos beastfolk em instituições humanas – uma premissa que remete fortemente aos esforços de integração escolar dos EUA durante a era dos Direitos Civis. A narrativa deixa claro que o preconceito é real: desde o primeiro dia, Tsunagu é alvo de discriminação, ameaças e tentativas de exclusão por parte dos colegas.
O primeiro encontro entre Mari e Tsunagu acontece quando ambos estão atrasados para a aula e pulam um muro. Ela o ajuda sem perceber sua aparência, e ao vê-lo com o uniforme da escola, se surpreende. No entanto, Mari rapidamente o trata com naturalidade e se torna uma das poucas a apoiá-lo de verdade. Apenas Yukihiro, outro estudante, também demonstra uma atitude amigável. Mesmo os que fingem aceitar Tsunagu acabam revelando sentimentos negativos – como uma colega que se irrita por ele ter ficado em primeiro lugar nas provas.
A crítica social presente na história é bem conduzida, mesmo que a sutileza não seja o foco. O maior problema está no desenvolvimento do romance, que peca por reproduzir elementos tóxicos frequentemente criticados em romances juvenis. O relacionamento de Tsunagu e Mari apresenta sinais de desequilíbrio, principalmente quando ele impõe contato físico mesmo após ela dizer “não”. A desculpa usada é o “instinto bestial”, já que ele está em uma espécie de período de acasalamento. Em outras palavras, o mangá usa a natureza animal do personagem como justificativa para ações que, em outros contextos, seriam vistas como inaceitáveis.
Esse tipo de construção romântica se encaixa no que estudiosas como Megan K. Maas e Amy E. Bonomi chamam de “tropo da virgem e da besta”, onde a dinâmica entre uma mulher submissa e um homem agressivo é romantizada. Embora não seja o exemplo mais extremo desse clichê, ele ainda levanta questionamentos sérios – especialmente considerando que estamos falando de uma obra voltada ao público jovem.
Por outro lado, se você não se incomoda com esse tipo de romance ou está procurando uma história entre humanos e personagens “furry”, o mangá pode agradar. A arte é charmosa em alguns momentos, com cenas fofas como a do rabo de Tsunagu balançando involuntariamente. A tradução também tenta destacar a crítica social presente no enredo, e as cenas mais ousadas têm um apelo visual característico do traço de Yuzuki.
Avaliação Final:
Nota Geral: 6,5 / 10
História: 6,0 / 10
Arte: 7,5 / 10
Pontos Positivos:
- Crítica social bem construída sobre preconceito e segregação.
- Cenas visuais fofas e um estilo artístico que pode agradar fãs do gênero.
Pontos Negativos:
- Romance desequilibrado, com toques de possessividade disfarçada de “instinto”.
- Tropo problemático para o público-alvo, com situações que beiram o não consentimento.
- Alguns elementos visuais causam confusão quanto à aparência do personagem beastfolk.